Nem toda adoção vem da infertilidade. Mas até quando vem, ela é fecunda.

Muitas vezes, ao falar sobre adoção, a primeira pergunta que ouvimos é: “Ah, vocês não podem ter filhos?”

Essa pergunta revela o quanto nossa sociedade ainda não entendeu o que é adoção. Ainda se acredita que adotar é uma “segunda opção”, uma solução para um “problema”.

Mas a verdade é que a adoção é um chamado. Ser família é um chamado. E muitas vezes, esse chamado passa por cruzes.

A infertilidade, por exemplo, não é castigo de Deus. É uma dor real, sim. Mas é também um lugar onde o Cristo crucificado pode se manifestar. Como diz São Paulo: “Trazemos em nosso corpo o morrer de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nós” (2 Cor 4,10).

Assim como a mulher que leva adiante uma gestação desafiadora carrega em si os sofrimentos de Cristo, esperando o momento da ressurreição ao ver o rosto do filho…

Assim como o filho adotivo que, mesmo sem ter culpa, carrega a dor do abandono — e que, quando curado, pode transformar essa dor em um testemunho glorioso…

Assim também o casal que, diante da infertilidade, escolhe amar com liberdade, escolher com generosidade e dizer sim à vida de outra forma.

Adotar é participar da redenção. É viver a Páscoa no cotidiano.

Sempre que olhamos para a infertilidade, tendemos a enxergá-la como um pecado ou castigo de Deus — e não deveria ser assim. Como disse no Stories anterior, há uma passagem bíblica que afirma: “Trazemos em nosso corpo o morrer de Jesus, para que também se manifeste em nosso corpo a vida de Cristo ressuscitado.”

Como podemos entender isso à luz da adoção?

O casal que enfrenta a dor da infertilidade carrega um sofrimento profundo. Mas esse sofrimento, quando acolhido e oferecido a Deus, pode se tornar fonte de conversão — não apenas para o casal, mas para todos que os acompanham.

Da mesma forma, a mulher que leva adiante uma gestação, mesmo diante de dores, enjôos, dificuldades e pressões, participa desse mistério pascal: carrega a cruz com Cristo, esperando a ressurreição ao dar à luz e acolher a vida.

E o filho adotivo também carrega uma marca — a dor do abandono. Mas, quando essa dor é bem elaborada, acompanhada e curada no seio da Igreja, ela se transforma numa cruz gloriosa. Uma cruz que pode gerar vida, ajudar outros a encontrar a Deus, e testemunhar que o amor é sempre maior do que qualquer ferida.