Quando uma família decide adotar, nasce um sonho. É uma escolha que reflete amor, generosidade e um profundo desejo de construir um lar para alguém que precisa. Mas com esse sonho vêm também os medos, e um dos mais comuns é: “E se a criança não se adaptar à nossa família?” Quero começar dizendo que esse medo é absolutamente normal e, de certa forma, saudável. Ele mostra que você se importa, que deseja acertar e proporcionar o melhor para essa criança.
Como católico, quero lembrar que a adoção não é apenas um ato de caridade, mas um chamado a viver o amor incondicional de Deus na prática. Contudo, isso não significa que será fácil. Vamos explorar juntos algumas questões práticas e emocionais que podem ajudar no acolhimento e na adaptação.
Por que a adaptação pode ser difícil?
Adaptação é um processo de mão dupla. Assim como você está se ajustando a uma nova dinâmica familiar, a criança também está. Muitas vezes, as crianças que chegam à adoção vêm de contextos de abandono, negligência ou traumas. O cérebro delas pode ter sido moldado pela desconfiança, pela dor e pelo medo. Estudos mostram que crianças que sofreram situações de estresse crônico tendem a ter um sistema nervoso mais reativo, o que pode influenciar comportamentos como irritabilidade, retração ou dificuldade em criar vínculos.
Mas lembre-se: o cérebro é moldável! Com paciência, carinho e um ambiente seguro, essas conexões podem ser reconstruídas.
1. Crie um ambiente seguro e previsível
As crianças que vêm de lares instáveis ou de instituições muitas vezes têm dificuldade com mudanças. Por isso, é essencial criar uma rotina clara e previsível. Isso dá à criança uma sensação de segurança e controle. Por exemplo:
- Estabeleça horários fixos para refeições, brincadeiras e sono.
- Explique com antecedência o que vai acontecer no dia, mesmo as coisas simples, como ir ao supermercado.
- Use palavras de encorajamento para reforçar que ela pertence à família, como: “Aqui é a sua casa”, “Você é parte de nós”.
2. Cultive a empatia: entenda o tempo da criança
Muitas vezes, esperamos que o amor aconteça de forma instantânea, como nos filmes. Mas criar vínculos leva tempo. Para a criança, confiar em vocês será como aprender a nadar: um processo lento e, às vezes, assustador.
Dica prática: observe os sinais que a criança dá. Se ela não gosta de abraços no começo, respeite isso. Demonstre amor de outras formas: com palavras, com gestos gentis ou simplesmente estando presente.
3. Busque conhecer a história da criança
Mesmo que o passado dela seja difícil, é importante conhecê-lo. Saber o que ela viveu ajuda a entender comportamentos e medos. Por exemplo, uma criança que nunca teve comida suficiente pode guardar alimentos debaixo do travesseiro — e isso não significa que ela está desafiando você, mas sim que está reagindo a um trauma.
Dica prática: converse com psicólogos, assistentes sociais e até antigos cuidadores para entender melhor como apoiar a criança.
4. Seja paciente consigo mesmo
Adotar é um ato de fé, mas isso não significa que você precisa ser perfeito. Muitas vezes, os pais se cobram por não saber lidar com os desafios da adaptação. Quero lembrá-lo de que você não está sozinho. Deus, que é Pai, nos ensina que a paternidade e a maternidade são jornadas de aprendizado constante.
Dica prática: se sentir que está sobrecarregado, procure ajuda. Um terapeuta familiar ou um grupo de apoio para pais adotivos pode fazer toda a diferença.
5. Reze e confie no processo
Como católicos, acreditamos que Deus nos guia em todas as coisas. A adoção não é um acaso; é uma vocação. Se Ele colocou essa criança em sua vida, Ele também dará as graças necessárias para superar os desafios. Inclua a criança em suas orações diárias e peça a Deus paciência, sabedoria e o dom do amor incondicional.
6. Envolva a comunidade e a família ampliada
Muitas vezes, a adaptação é facilitada quando a criança sente que está cercada por uma rede de apoio. Convide familiares e amigos a participarem da vida da criança de forma acolhedora. Leve-a à paróquia, inscreva-a em grupos de catequese ou atividades comunitárias. A convivência com outras crianças pode ajudá-la a se sentir parte de algo maior.
Por fim, lembre-se:
A adaptação pode levar semanas, meses ou até anos, mas o amor persevera. E mesmo quando você não sentir que está progredindo, pequenos gestos diários podem estar plantando sementes de cura e confiança. Deus nos chama a sermos famílias abertas ao amor, à paciência e à superação.
A adoção é um caminho de santidade — tanto para você quanto para a criança. Continue acreditando, mesmo nos momentos difíceis. Deus, em sua infinita misericórdia, está caminhando com vocês. 🙏